O caso "Fera da Penha" e a santificação de "Taninha"

Taninha e o Julgamento de Neide.
Era uma quinta feira do mês de Junho do ano de 1960, mais especificamente no dia 30. Um dos crimes de maior repercussão no Rio de Janeiro, quiçá do Brasil, deu-se no bairro da Penha, que a pouco mais de 10 anos tinha recebido unidades dos IAPI's. Neide Maia Lopes viria a ser conhecida como "A Fera da Penha" após assassinar com requintes de crueldade a enteada Tânia Maria de Araújo, a Taninha, de apenas 4 anos. Neide teria ido buscar a menina no colégio em que estudava na Piedade, alegando ser uma amiga da mãe de Taninha, levado a criança para cortar os cabelos na casa de uma conhecida no conjunto habitacional IAPI da Penha e, mais tarde, no mesmo dia, teria consumado o crime: com um tiro na nuca, Neide matara Taninha usando um revólver calibre 32 no antigo matadouro de bovinos as margens da Avenida Brasil. O motivo, segundo a autora, teria sido passional por não ter aceitado o fim do relacionamento extraconjugal com o pai de Taninha, Antônio. No desenrolar do fato, Neide foi sentenciada a 33 anos de prisão, tendo sua pena reduzida, sendo libertada em 1975. 

O túmulo de Taninha até hoje recebe fiéis que acreditam na santidade da menina; muitos levam ao local presentes, flores e ex-votos como agradecimento por graças alcançadas ou até mesmo pedidos. Taninha seria mais um caso da mentalidade popular, cujo religioso preenche o silêncio que muitos estudiosos procuram entender para dar nexo aos fenômenos populares. 

Populares em cortejo levando o caixão de Taninha
Da cultura católica romana trazida pelos portugueses herdamos o sentimento de que uma criança até os 8 anos ainda é um anjo. O kardecismo afirma isso quando, dentro da doutrina, acredita-se que, um indivíduo de encontro à sua adolescência deixa aflorar seu real sentido da vida, seu verdadeiro caráter. Fora isso, antes deste acontecido, o espírito ainda estaria em busca de entender o que estaria acontecendo com ele dentro do corpo encarnado. 

Taninha fora assassinada com 4 anos. No inconsciente social - principalmente em uma cultura extrememente carola e cristã como a nossa - a morte abrupta e interrompida com requintes de crueldade soa mais como uma martirização do ser. Qual a explicação - ou pelo menos a tentativa dela - para transformar a criança assassinada em um ente religioso, próximo dos seres vivos? Sabemos da proximidade do brasileiro com os seres místicos e sua forma de tratá-los. No caso de Taninha a ternura passada por ser uma criança vítima de ciúmes e vingança possa ser um dos fatores que acentuou sua santidade. De fato, todos temos maior afeto com crianças, o que transforma o crime brutal em uma tentativa de afago diante da dor do ser que teve sua vida tirada.

Local onde foi morta Taninha e seu túmulo no cemitério de Inhaúma
Fora da comoção popular, estudos apontam que vem de tempos remotos a criação de entes religiosos que façam a ligação entre o mundo dos mortais e o divino. Dentro das vilas e aldeias da Europa moderna dos séculos XVI ao XVIII ainda encontra-se altares à entidades locais que em algum momento foram seres viventes que, martirizados ou atores de sacrifícios heroicos, do outro lado protegem seus conterrâneos aldeões. Na África, as tribos que comercializavam escravos com os traficantes negreiros acabaram importando culturas que vieram a reforçar esses costumes rurais europeus: dentro das tribos escravizadas tínhamos seus protetores locais, que aqui no Brasil vieram a se convencionar em Orixás.

O caso Taninha apenas exemplifica a bagagem cultural que herdamos de tempos longínquos na busca de ligar a Terra e o Céu. O divino sempre permeou o imaginário popular e transformou sua mentalidade ao longo do tempo. Diante das adversidades do mundo que nos rodeia, precisamos apelar para forçar super-humanas para que nossas desejos se realizem. E no caso de Taninha, seus devotos mimam o espírito do ser que um dia fora uma criança em vida, e que precisa de afeto, carinho e atenção para que ajude seu cuidador nas dificuldades. 

Comentários

  1. Alguém tem a foto dela idosa? Se tiver me manda pelo instagram: Carbokatherine

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