Dos engenhos aos calçadões: A contribuição da economia na formação do subúrbio.


Uma das obrigatoriedades ao se tocar no tema História do Brasil é abordar a respeito da escravidão. A relação entre senhor- escravo fica como ponto principal da abordagem a respeito das relações sócio-econômicas da América portuguesa e do Brasil Império. De fato, é a mais marcante das relações de produção nos períodos citados. Pretendo ir além dos "muros" das fazendas e engenhos: O que movimentava o mercado intermediário e fazia o capital circular? Longe de afirmar alguma coisa, mesmo por falta de uma análise de fontes, levanto questões para trabalhos futuros a respeito do que movimentava a economia no atual subúrbio carioca nos seus tempos de sertão. Escravos, mão de obra especializada, empréstimos com juros, hipotecas, comércio de primeiras necessidades. Podemos ver que vai muito além do uso da escravidão para se produzir e, entre essas atividades, meu foco se destina a um ponto crucial: Como os engenhos, fazendas e áreas comerciais foram importantes para reunir um aglomerado de habitações ao seu entorno?


É óbvio que a distância entre as habitações precárias do sertão carioca e a cidade do Rio de Janeiro (atual Centro) favoreceram para impulsionar o comércio local. Imaginar que as fontes de se enriquecer na colônia e no império partia única e exclusivamente dos engenhos e fazendas é ingenuidade: Como se alimentavam senhores, senhoras, escravos e escravas? Uma das maiores fontes de riqueza nestes tempos era o comércio. Não era simples montar um engenho ou possuir um número considerável de escravos para começar estas atividades. Era necessário a contratação de mão de obra especializada para montagem das moendas, manutenção das engenhocas, produção de açúcar e aguardente. De onde partia grande parte do capital para estes investimentos? Além dos empréstimos das Igrejas, irmandades e confrarias, os comerciantes intermediários tinham grande participação. Empréstimos a juros, hipotecas e pagamento com parte das produções faziam parte da transação entre aqueles que desejavam prosperar e estes empresários locais. Enriqueciam com a venda de objetos e produtos de necessidade imediata, alimentos e bebidas. Imaginar que não existia riqueza proveniente de contrabandos seria ingenuidade, mas o fato é que os comerciantes faziam suas riquezas a base das necessidades da população local ou aquelas que passavam pelas estradas. Com o auge da mineração, o comércio de beira de estradas se fortificou ainda mais. Um segundo momento de ascensão comercial se dá na época em que o café se tornou a maior atividade econômica do Brasil. Com o esgotamento das minas, o médio Vale do Paraíba viu suas terras, ainda virgens, por ser de monopólio da coroa portuguesa, pois é por onde passava o escoamento de ouro, serem aproveitadas para o cultivo do café. Duas cidades que prosperaram a beira das estradas que levavam à Minas são Vassouras e Valença, por exemplo. Mas uma das maiores oportunidades de gerar capital e renda ainda estava no comércio, se debruçando nestas ascensões e gêneros de produção. 


O atual subúrbio carioca ainda guarda traços destes tempos: Bairros com nomes de engenhos e fazendas, até mesmo construções ainda preservadas, mesmo que precariamente. Essa movimentação econômica foi fator contribuinte para determinar as importâncias dos atuais bairros da cidade. As atividades econômicas propiciaram, além de uma interiorização, com as estradas de ferro e estradas, um povoamento lento e crucial para a formação da metrópole atual. Áreas onde em outras épocas se acumulavam capitais e riquezas, em nossos tempos foram usadas para abrigar culturas indesejáveis no centro. Culturas ditas sem fundamento e de baixo valor, que contribuíram com a formação de identidade e fraternidade suburbana. As relações sócio-econômicas do subúrbio continuam a contribuir com a riqueza da cidade do Rio de Janeiro, seja com o seu comércio local, calçadões e shoppings, seja com a contribuição da grande massa de trabalhadores que aqui habitam. 

Comentários

  1. Deixo aqui uma pergunta: e quanto aos suburbanos que conseguem ascender socialmente? Infelizmente não temos um governo que trata da cidade de uma forma igualitária, ao invés de investir no desenvolvimento socio-econômico do subúrbio, estimula a especulação imobiliária do eixo "urbano" da do Rio(Zona Sul-Cento-Grande Tijuca-Barra). Fica o dilema. É melhor fixar e construir a vida emergente dentro do próprio suburbio, com o status de "bambambam" do bairro ou se mudar para o eixo nobre em busca de teoricamente mais qualidade de vida?

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  2. Prezado, recomendo a leitura de: STANLEY STEIN - VASSOURAS UM MUNICIPIO BRASILEIRO DO CAFE 1850 1900.
    Muito rico em informações dessa época, que serve para ter uma noção de como eram as relações da escravidão, e os outros meios econômicos da época. Trata-se de um dos livros mais ricos sobre a escravidão no Brasil.

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