Ocupar e Resistir: Revitalizando o patrimônio histórico material e imaterial do subúrbio carioca.


Algumas vezes aqui já bati na tecla de como o subúrbio carioca pode ser observado por olhares que o enxergam como um espaço de conserva de costumes seculares, reforçados pela vinda dos imigrantes europeus no início do século XX, principalmente os portugueses; como o subúrbio tem proeminência no conceito de ser carioca, através destes costumes que caracterizaram o natural do Rio de Janeiro pelo mundo. Entretanto, nesta onda de transformação do Rio de Janeiro em uma cidade espetáculo nas duas primeiras décadas do ano 2000, pronta para receber e abrigar turistas de todas partes do Brasil e do mundo, a questão a ser levantada é a seguinte: Como manter o ser suburbano, seus costumes e seu espaço sem destruir tal identidade? Como enquadrar e remanejar o espaço em que muitos nasceram, cresceram e vivem, onde formaram seus elos emotivos, nesta transformação que, gradualmente, toma o espaço do natural para caracterizá-lo a revelia daquilo que a localidade e aqueles que ali habitam se identificam?

Propostas são levantadas por planejamentos urbanos, que quase sempre acabam por desfigurar o patrimônio material da localidade: Prédios históricos são postos abaixo em prol de novas edificações modernas. O patrimônio imaterial suburbano, suas festas e crenças, apesar de manterem-se vivos, não ganham destaque no circuito cultural da cidade. Uma cidade que se propõe a entrar no circuito mundial dos espetáculos, transformando-se em uma sociedade mecânica e não mais orgânica, deveria dar atenção àquilo que transformou sua localidade; é pelo costume de um povo que se conhece uma nação, não pelo modo de agir de seus governantes. 

Nestas observações, a necessidade de uma conscientização sobre o seu espaço natural e sua gente deve ser passada à frente: Por que apenas as áreas mais abastadas têm o direito de destaque dentro do Rio de Janeiro? É preciso de debates locais para discutir os rumos dos patrimônios materiais e imateriais de cada lugar, juntamente com representações governamentais, buscando apoio governamental para colocar adiante os projetos de revitalização; buscar incentivo para desenvolver a cultura artística das localidades, seja ela artesanal, musical ou teatral. Não se pode deixar ao relento festas seculares que fazem parte da História de uma localidade - como a festa da Penha - , ou construções que marcaram o povoamento do então sertão carioca em tempos remotos - principalmente as construções eclesiásticas, tais como a igreja de Nossa Senhora da Apresentação, em Irajá, ou os prédios dos jesuítas, em Santa Cruz. 

Não podemos encarar o subúrbio como um lugar qualquer, depreciado pela mídia e as classes ricas como uma área economicamente pobre, sem valor algum. Não devemos depreciar aquilo que tem um valor inestimável para a cultura do Rio de Janeiro, diante do subjugo imposto pelas autoridades que transformam a cidade não para os cariocas. A vontade deve emanar daqueles que constroem seus laços afetivos em seus bairros, onde nasceram e tornaram-se cidadãos conscientes de seu lugar na sociedade. A consciência a ser levada é a que o suburbano guarda em sua educação costumes tradicionais que ultrapassaram séculos, venceram adversidades e repressões. E não são máquinas que irão soterrá-los. É preciso resistir.


Comentários

  1. Concordo c td q vc falou e lamento profundamente td esse "pseudo desenvolvimento" q está claro ñ tem em nós suburbanos o seu foco. Mas como fazer os mais jovens se conscientizarem? Terem a preocupação de preservar as raízes? Difícil... Talvez os professores nas escolas do subúrbio devessem começar a resgatar esse passado e esse modo de vida tão rico.
    (Cláudia - Suburbana de Bonsucesso)

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  2. vai rolar no parque ary barroso domingo a partir das 14 horas uma reuniao de grupo que está se formando pra debater o suburbio, e suas questões diversas.

    pinta lá se puder, vai ser no parque mesmo aberto a quem quiser chegar.

    ae no face - https://www.facebook.com/events/513292402073440/

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