Pensando o subúrbio: Conscientização local.


Estigmatizar aquilo que se repudia sem ao menos conhecer é papel para os intelectualmente frágeis. O medo de encontrar em si aquilo que se quer distância cria um mal estar no qual o que se tem como verdade acaba sendo imposto à força, ou causa a indiferença por pensar que uma verdade é mais verdadeira do que a outra. De certo, parece estarmos vivendo em um período de pedido de perdão ao periférico, mas não com a sinceridade esperada: Depois de tanto tempo lançando olhares maldosos ao subúrbio, parece que a sociedade carioca gostaria de retratar. 

Como já foi dito por mim, na tentativa de trazer os subúrbios para o centro do furacão do modelo econômico das grandes empresas que transformam as nações em multinacionais, o que antes era grotesco, agora é moda; tornou-se papel obrigatório aplaudir a favela, que antes era repudiada por seu modo de vida simples, seu jeito de viver com o que se tem. É legal, agora, voltar os olhos para os churrascos nas lajes ou quintais suburbanos, usar nossas gírias e nosso jeito de vestir. O que antes era recriminado como algo informal, hoje chega às telas como a nova tendência de um país que ruma à privatização do espaço público e de seus costumes. Infelizmente, mesmo que se pague um preço para tentar ser politicamente correto e "do povo", continua sendo algo de plástico, artificial, sem o sangue e o suor suburbano. 

Na tentativa de mostrar às novas gerações que, apesar de tantos anos de estigmatizações pejorativas, ele não é um excluído, nem nunca foi. O Rio de Janeiro é uma cidade multicultural, e isso deve ser incutido na mente daqueles que pensam a cidade apenas como orla. Por que o morador da Zona Oeste teria sua cultura desvalorizada em relação do que vive no Leblon? O poder aquisitivo, mesmo em nossos dias, muito pouco significa riqueza de conhecimento. Existem aqueles que, mesmo tendo muita riqueza material, mal uso fazem delas e permanecem no vazio ignorante da pobreza de espírito; nos deparamos com a velha frase "ganhamos pouco, mas nos divertimos". É a partir do estigma negativo que surgem diversos problemas sociais e individuais. 

Adiante, depois de um trabalho de mentalidade e mostrando o quanto é necessário perceber através da relatividade o que é bom e o que é ruim, o incentivo à busca das raízes de seu local deve ser trabalhado juntamente com as novas gerações: Para que um determinado bairro crescesse, muitos tiveram que passar por contratempos e dificuldades, levando a vida no improviso e, muitas vezes, em seus limites. Honrar as raízes infla o orgulho de um lugar, pois fora ali que aprendeu a caminhar, falar, conviver em sociedade e guardar os ensinamentos básicos dos pais e avós. Seria papel de todos que ali residem manterem vivos o que caracteriza uma vida simples e diversificada, rica em tradições. Interessante seria se, em conjunto com a sociedade local, as escolas e grupos que lutam pela ocupação e resistência cultural trabalhassem para dar mais vida à chama do patrimônio imaterial do subúrbio. Somente assim apagaríamos os estigmas que muitos males causam às nossas vidas dentro da cidade. 

Portanto, é contra a divisão invisível aos olhos que devemos lutar. Somos todos cariocas, e por que apenas alguns podem ser cariocas? Os elos devem ser ligados, revistos, questionados e revolucionados. A constante mudança, revisitando velhos conceitos para que funcionem em conjunto com novos olhares fará a diferença àqueles que estiverem dispostos a mudar seu espaço. Não devemos julgar o rico por ser rico, muito menos o pobre por ser pobre: Somos seres humanos, com nossas histórias, valores e culturas, que, unidos, formam um grande instrumento de transformação. 

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